Quem com ferro fere, com ferro será ferido

foto: Evaristo Sá
foto: Evaristo Sá
Foto: Jefferson Rudy/ Agência Senado
Foto: Jefferson Rudy/ Agência Senado

Só que está mais brando…

Ontem, entramos pela segunda vez na história do país, em um processo de impeachment de um presidente da República. Depois de 20 horas de discursos, os senadores votaram sob os olhares atentos dos brasileiros, ou quase atentos porque muitos passaram a madrugada dando boas cochiladas. As 6h34, começaram as comemorações com estouro de foguetes em quase todo o país, provando que a vigília estava firme.

Não assisti quase nada, mas ouvi o ex-presidente Fernando Collor e fiquei impressionada em ver a diferença de tratamento nos dois casos. Não faço aqui nenhuma defesa política, apenas analiso fatos históricos em ambas as situações. Impeachment é impedimento ou impugnação e é utilizado contra autoridades governamentais acusadas de infringir seus deveres funcionais. Ambos sofreram acusações. Se impeachment continua sendo a mesma coisa, por que a forma de instaurá-lo e conduzi-lo mudou?. Acompanhem e vejam.

Para quem não se lembra, em 1º de junho de 1992, o Congresso Nacional formou uma CPI para apurar os negócios de Paulo César Farias no governo Collor; e em 3 de agosto, a executiva nacional do PT decidiu promover uma série de comícios no país pela aprovação do impeachment. A mobilização foi geral, surgiram os ‘cara pintadas’. Agora, a vítima é um membro do PT e a população fez a mobilização espontânea, indo às ruas e pedindo o impedimento.

As discrepâncias entre os dois casos começam pelo prazo. No processo de Fernando Collor foram quatro meses entre a apresentação da denúncia até a decisão de renunciar – opção adotada por Collor – no dia do último julgamento. No atual processo, já se foram mais de oito meses. Ainda serão mais seis meses previstos até o julgamento final. Ou seja, 4 X 14. “O rito é o mesmo, mas o ritmo e o rigor não”, considerou o ex-presidente em sua fala no Senado.

Collor lembrou: “Entre a chegada no Senado da autorização da Câmara até o meu afastamento provisório, transcorreram 48 horas. Hoje, estamos há 23 dias somente na fase inicial nesta Casa. O parecer da Comissão Especial, que hoje discutimos, possui 128 páginas. O mesmo parecer de 1992, elaborado a toque de caixa, continha meia página, com apenas dois parágrafos – isso mesmo, dois parágrafos”. 1 X 123.

Quando foi afastado da Presidência da República, Collor teve que sair da residência oficial, ficou sem receber salário, não teve direito a segurança, nem transporte. Pediu ao piloto do helicóptero que foi levá-lo em casa, que sobrevoasse uma obra, recebeu a seguinte resposta: “só temos combustível para deixá-lo em sua casa”. A presidente Dilma continuará residindo no Palácio da Alvorada, recebendo o salário de quase R$ 31 mil, terá direito a segurança, transporte terrestre e aéreo, plano de saúde, assessores para um gabinete particular. 0 X 7.

Collor foi o primeiro presidente a ser eleito pelo povo. Me pergunto: por que a presidente afastada insiste em dizer que o processo de impeachment é contra a democracia? Por que o que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e a Constituição? Por acaso Fernando Collor não foi eleito pelo povo, nas urnas? Não foi o início da democracia, já que foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto do povo? O PT achava, em 1992, que o impeachment era válido em uma democracia, e agora não é mais? Virou golpe por que é contra um membro do partido? Alguém me explica?

O fato é que o feitiço virou contra o feiticeiro e eles estão sofrendo na pele o efeito do que lutaram para conseguir – e conseguiram – em 1992. Tem que se tomar cuidado com as ações, o mundo é redondo, as coisas voltam… Estamos na era da comunicação onde há olhos, gravações e filmagens por todos os lados. Nada mais fica oculto.

Agora, é aguardar o resultado do julgamento do atual processo.

Isabela Teixeira da Costa

  • Que crônica boba… Achei que iria ver algo interessante, mas apenas a reprodução da idiotice útil de alguns. Desde quando se pode comparar pedaladas fiscais, feitas com habitualidade pelos governadores dos partidos que são a favor do impeachment com um escândalo de corrupção internacional, que ficou escancarado para todos? Collor comprovadamente cometeu crime de responsabilidade pois foi atestado o desvio de verbas públicas com o esquema PC Farias. Qual a acusação semelhante que pende contra a Dilma? Desculpe, mas a comparação chega a ser esdrúxula. Quem tem um mínimo de discernimento político ignorou essas alegações de Collor.

    • João, como disse na crônica, não pretendi fazer juízo de valor, nem tão pouco julgar A ou B. Apenas avaliei as ações do processo de impeachment. Independentemente do que A ou B tenham feito – e tem parlamentares e juízes do Supremo que julgarão, como julgaram o ex-presidente – acredito que o processo deveria ter sido da mesma forma. Isso é o que exponho, não interessa quem fez o que. Impeachment para ambos? O processo deveria ser igual. Mas opinião, cada um tem a sua e respeito a de todos.

  • Para ficar mais claro, faltou mostrar os motivos que tiraram Collor e os que acusam a Dilma. Só o tamanho do relatório não deixa claro.

    • Bruno, fiz questão de não colocar, para não parecer que estava levantando bandeira pró A ou B. Mesmo porque o processo de Fernando Collor já foi julgado. Acho melhor deixar cada um pesquisar.

  • Boa noite, Isabela. Também me impressionou a diferença. Collor caiu por tão pouco frente à roubalheira que grassa no país que é de envergonhar. O PT, que por tanto tempo soube ser oposição (não concordava com nada e quis o impeachment de tantos, tantas vezes), agora mostra a sua cara.
    Reclamam pelo direito ao contraditório, em situações que Collor não teve e a ela foi satisfeito. Afirmam lutar pela “democracia”. Pense: democracia. Coisa Pública. Rés pública. República. Art. 1º da CF. Que autoriza literalmente o impeachment. Daí a absoluta legitimidade que afirmam o Temer não ter. Se não fosse ele seria o próximo da lista (até o STF) e não o voto. O contrário, sim, o voto, sim, seria golpe, porque contrário à Constituição, ao Estado de Direito. Mas você vai discutir com petista? Ou é comprado ou fez lavagem cerebral.

Comentários