Minha tia Yayá e a santa

Tia Yayá
Tia Yayá

Tia Yayá era muito engraçada, e seus casos são inesquecíveis. Este merece registro.

Já falei aqui do grupo que temos no WhatsApp das primas da família Teixeira da Costa Almeida. São cerca de 60 primas que ficam conversando o dia inteiro. Não é sempre que posso participar em função do trabalho, mas dou uma passada de olho com frequência. Muita coisa que já publiquei aqui saiu de lá.

Semana passada, em função de vários casos de família que são contados ali, decidiu-se criar outro grupo chamado ‘Causos de Família’, incluir uns primos e registrar estes casos. A intenção é escrever um livro. Fiquei responsável por esta tarefa. Não sei se vou escrever o livro, mas já estou coletando e organizando as histórias que a turma está postando.

Não resisti e vou contar um dos casos. Tinha uma tia muito querida, carinhosamente chamada por todos de Yayá. Dizem que era linda quando moça, chegou a ser miss e era muito vaidosa. Penso que entre a vaidade e o prazer de comer, o segundo ganhou disparado e ela foi ganhando peso. Ficou obesa mórbida. Ela morava na Rua Goitacazes, e nas férias convidava minha irmã e eu para passar o dia lá, brincando com nossa prima Olguinha, que vinha de Brasília.

Olguinha com Tia Yayá
Olguinha com Tia Yayá

Tia Yayá era vizinha de um padre. Ela morava no apartamento de cima e o bendito padre cismou que minha tia chupava laranja e jogava o bagaço na sua varanda. Brigaram por causa disso. Tia estava incomodada com a briga, afinal, brigar com padre não era bom presságio. Diz a cultura popular que quem briga com padre a vida não vai pra frente.

Era época de visitação da santa, quando a imagem passa o dia na casa de alguém da paróquia para abençoar a família. Tia Yayá quis receber a santa para estreitar os laços com o padre, porém, para fazer as pazes decidiu fazer uma celebração em homenagem à imagem de Nossa Senhora em sua casa, e convidou o vizinho padre para os atos litúrgicos. Não bastava receber a imagem e rezar com a família tinha que ter pompa e circunstância. Ele não queria aceitar de jeito nenhum, com muito custo concordou. A família encheu a casa: Simão, seu filho; as netas Marina, Patrícia e Olguinha ainda crianças; a vizinha Chiquita, que era contra-parente. Tudo enfeitado, lindo, altar caprichado.

O padre entrou jogando água benta com uma expressão de alegria. Percebia-se claramente que as pazes tinham sido feitas. Tia Yayá, em sinal de respeito à santa e ao momento litúrgico tão importante, resolveu se ajoelhar, apesar de toda dificuldade em função do seu peso. Apoiou-se em uma poltrona para ajudar no movimento, a poltrona quebrou, ela caiu no chão, o pé da poltrona zuniu no ar, bateu na imagem e decepou a cabeça da santa. Pandemônio formado!
Todos da família tiveram que sair da sala porque estavam explodindo de rir, e o padre furioso, com a imagem de sua santa decepada e tia Yayá estatelada no chão sem ninguém para ajudar a levantá-la.

Foi uma tragédia.
Passado o primeiro momento e depois de se recomporem, voltaram para a sala para ajudar minha tia a se levantar. Ela, ainda no chão agradecendo a todos que tentavam ajuda-la, mas no fundo não se esforçando muito para sair daquela posição. Dizia adorar ficar no chão, era fresco e fazia bem para a coluna. Só quem estava lá sabe o problema que foi tirá-la do chão.
Passado o período para esquecer o vexame, minha tia foi tomar banho e encontrou um caroço no braço. Trágica como ela só, logo pensou em câncer e castigo pelo incidente com padre e santa. Imediatamente fez uma promessa a São José de quem era devota: Nunca mais ia falar mal do padre nem implicar com ele se não fosse nada. Daí em diante só tomava banho com uma esponja grossa e nunca mais sentiu caroço nenhum. Ninguém sabe dizer se a amizade foi selada, ou se pelo menos ela parou de falar mal do padre.

Essas lembranças famíliares são uma delícia, dão um tempero especial à vida.

Isabela Teixeira da Costa

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