Idade não é limite

Leda
Silvia Rubião, Leda Gontijo, e Paulo Rossi. Foto Marcus Vieira/Estado de Minas/D.A.Press

Outro dia, fui ao vernissage da dona Leda Selmidei Gontijo. Não sei se todos os leitores conhecem essa artista plástica de mão cheia e sabem que ela acaba de completar 101 anos de vida. Isso mesmo, 101 e está em plena atividade.

Chegou na galeria dizendo alto e bom som que tinha acabado de fazer mais uma escultura e quando perguntaram por que não a levou para a exposição a resposta também foi rápida: “Já está vendida e já foi para o Rio de Janeiro”.

Durante o coquetel, foi um entra e sai de pessoas das mais variadas idades, e o mais emocionante foi o encontro dela com a amiga de uma vida inteira Judith dos Mares Guia, de 105 anos e totalmente lúcida, inteira como dona Leda. Por sinal, a artista plástica dará aula às terças e quintas, na parte da tarde, durante o período da mostra. Claro que as pernas cansam, é natural, mas para isso entra a tecnologia. Dona Leda tem um carrinho a motor e não sai sem ele, anda a pé, mas quando se cansa senta nele e pronto, vai para todo lado, numa boa. Essa é outra questão. Já encontrei várias pessoas com idade mais avançada que mesmo com a perna cansada não abrem mão de um salto alto, e outras que, perdendo o equilíbrio, recusam o auxílio de uma bengala. Temos que aceitar todos os acessórios que foram criados para facilitar nossa vida, o importante é não ficar alienado. Está enxergando mal, use óculos; perdeu a audição, use aparelho; perna fraca, pegue a bengala, não deu, passe para o andador ou então a cadeira de rodas ou o carrinho, igual dona Leda.

Isso só prova que temos que ficar na ativa, mesmo. Não me refiro a musculação, pilates, aeróbica, hidroginástica. Se fizer melhor, mas não podemos nos acomodar, aceitar a idade como se isso fosse um peso, e nos recolher dentro de casa, viver na solidão, em frente da TV, ouvindo música ou simplesmente no complexo da Carolina, vendo a vida passar pela janela.

Devemos ter um projeto. Leda e Judith têm vida longa e estão bem porque têm projeto de vida. Leda trabalha até hoje, programou e realizou sua exposição. Poderia ter feito o vernissage e voltado para casa, mas optou por dar aula na galeria duas vezes por semana. Atividade, viver a vida intensamente.

É isso que devemos fazer. Encontrar com amigos, sair para passear, ir ao cinema, teatro, jantar, almoçar, tomar chá das cinco, seja lá o que for. Dedicar-se a um hobby, um lazer, de preferência com pessoas de quem gostamos. Falta de dinheiro não é desculpa.

Outro dia, saí com um amigo e sem saber o que fazer fomos para a Praça a Liberdade. Sentamos em um banco e ficamos horas conversando. Como foi agradável. Não gastamos nada, ninguém nos incomodou, clima delicioso, momentos descontraídos.

Dona Leda e dona Judith são abençoadas por Deus por essa longevidade tão cheia de saúde, lucidez e dinamismo, mas elas também fizeram por onde, não se entregaram. Até hoje vivem com prazer, com alegria e otimismo, não sentem o peso da idade, desfrutam dela,  da experiência e sabedoria que acumularam com a soma dos anos.

Exemplo de vida para todos nós.

Isabela Teixeira da Costa

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