Estou envelhecendo

junia2O envelhecimento cronológico é inevitável.

Antes que fiquem preocupados, não estou me sentido velha nem tão pouco deprimida. Vou explicar. Nunca fui dessas de me ligar em idade. Jamais escondi quantos anos tenho – o que já incomodou muita amiga minha por causa da comparação –, e sempre afirmei que idade é uma questão de estado de espírito, porém, tem uma área que é inevitável.

Acompanhem comigo. Tem muita gente jovem, cronologicamente falando, que tem uma cabeça e um comportamento tão sério, não saem, não se divertem, enfim, só sabem trabalhar e ficar em casa, que parecem mais velhas do que muita gente de 50 e 60 anos. Por outro lado, tem muitas pessoas mais velhas que são animadas, se exercitam, convivem com amigos, saem com frequência, se divertem, enfim, vivem, são alegres, sorriem e parecem bem mais jovens do que são.

Por essas e outras, sempre disse que idade cronológica não conta muito, e sim o estado de espírito, o comportamento. Porém, chega um certo momento da nossa vida, que os amigos começam a partir e aí acende um sinal luminoso bem diante de nós.

Não daqueles que você será o próximo ou que seu fim está se aproximando. Como vocês já devem ter percebido, não sou dessas. Pessimismo e depressão passam longe de mim. Porém, começamos a ter perdas de pessoas queridas. Gente que nem passava pela nossa cabeça que nos deixariam. E aí, só aí, percebemos que já estamos com 56 e que muitos de nossos amigos já passaram dos 60. Já viveram muito e o que fizeram de errado em suas vidas, fizeram por período prolongado e isso traz consequências.

Tentamos ser racionais, mas a racionalidade não consegue ser maior que o sentimento. Em dezembro perdi um amigo, desses que a gente conhece e de cara se dá bem. Renato Biagioni, casado com minha amiga Priscila. Do primeiro momento que nos conhecemos ficamos amigos, não nos encontrávamos com frequência, mas ele sabia que podia contar comigo e eu com ele. E sempre que nos víamos era divertidíssimo. Senti muito.

juniaOntem, foi a vez de outra amiga, ou melhor de uma prima. A conheci quando eu era criança e ela adolescente namorando meu primo Carlos Helvécio (Kao). Não esqueço até hoje a primeira vez que a vi na casa da minha tia Neury. Estava de uniforme com um lindo cabelo castanho lisinho, pesado, inteiro, tão comprido que chegava no quadril. Muito alegre e educada: Júnia Couto.

Convivemos muito, a vida toda. Quando se divorciaram e nos encontramos em uma festa, fui cumprimentá-la, dei um grande abraço, um beijo chamando ela de prima e dizendo que não tinha jeito, ela sempre seria minha prima, ela me respondeu: “que alegria, foi a melhor coisa que você poderia me dizer”.

De lá em diante, todas as vezes que nos víamos ela era a primeira a me chamar: “ei, prima! ”. Apesar do divórcio ela nunca se separou da família, participava de tudo. Virou membro da nossa família, sempre dizia para minha tia que ela continuava sendo sua sogra querida, e para minhas primas que eram suas cunhadas. Conhecia os palavrões, mas só começou a falar com a convivência com nossa família. Desculpe, D. Zilda. A mãe dela nunca falou um palavrão na vida inteira, um exemplo de mulher elegante, educada e integra. Júnia herdou tudo da mãe, porém, o quesito educação ficou capenga por causa desses nomes feios, mas isso deu a ela uma certa descontração que era necessária. Acho que D. Zilda nos perdoou, porque sempre gostou muito de todos, em especial da Tia Neury e era muito amiga de minha mãe, que era mestre na arte dos palavrões.

Espero que essas perdas nos deem uma trégua.

Isabela Teixeira da Costa

  • Que tristeza, só soube agora….Lembro-me dela do colégio Sacre Couer.Parece que a gente envelhece mais um pouquinho ao saber de notícias tristes como essa.

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