Crise brava…

criseE a marolinha virou um tsunami. O ano passado foi bravo e, sem querer ser muito pessimista, 2016 não sinaliza que será melhor.

Impostos, juros e inflação estão em alta. Quem der uma volta pelos bairros Buritis, Estoril, Pampulha, Santo Antônio, Sion, Santa Efigênia, Cruzeiro ou Belvedere não tem como não se impressionar com a quantidade de placas de aluga-se e vende-se afixadas em apartamentos, casas e estabelecimentos comerciais. No Estoril, há um prédio inteiro colocado à venda ou para alugar – ficou só um morador. Não pensem que se trata de obra nova. Isso só deve dificultar a comercialização, pois quem passa deve pensar: qual é o problema desse edifício? Será a localização, vizinhos? Porém, temos aí o retrato da crise. E a quantidade de apartamentos comprados na planta que têm sido devolvidos para as construtoras?

Pais estão tirando os filhos de colégios particulares e buscando vaga em escolas públicas, pois não têm condições de continuar arcando com os altos custos do ensino privado. Isso não envolve só a mensalidade, mas também material escolar e outras despesas.

Semana passada, fui ao cinema com amigas e emendamos em um jantar. Era sexta-feira, o programa foi mais cedo e, consequentemente, não voltamos tarde para casa. Era pouco mais de meia-noite e ficamos surpresas, pois restaurantes e bares habitualmente cheios estavam fechados. Mesmo dando o desconto das férias, era cedo demais para isso.

Entretanto, casas tradicionais de BH não estão às moscas. De jeito nenhum. Afinal, mineiro adora sair. Fomos à Cantina Província de Salerno, não havia mesa. Conversando com proprietários de bares, soubemos que o consumo mudou. Quem pedia 10 cervejas importadas reduziu para cinco ou passou a tomar a bebida nacional. Resumindo: o preço da conta diminuiu bastante.

Ganharam espaço os cupons de desconto, seja aqueles da internet seja o passaporte vendido em estabelecimentos da capital que chegam a dar 50% de desconto em almoços e jantares para duas pessoas. Sem querer levantar polêmica, resta saber se a promoção é real. A proliferação de cupons não seria responsável pelo alto preço dos cardápios? Cobrando preços justos é difícil bancar um desconto tão alto…

Por outro lado, notamos uma mudança de hábitos. Hoje, estão “bombando” espetinhos e food trucks, que ficam lotados. Motivo: programas assim são gostosos e mais em conta. Baratos, pois se trata de atividade informal – a maioria dos food trucks não emite notas fiscal nem paga aluguel; os veículos podem estacionar em qualquer lugar, desde que fiquem a 300 metros de bares e restaurantes e não demandam muitos funcionários. Geralmente, quem trabalha é o dono. Isso tudo se reflete no preço final. É agradável passear na praça com os amigos, provar a diversidade das comidas dos trucks, mas se trata de competição um pouco desigual com o setor formal.

Outro aspecto destes tempos: a crise e o aumento dólar reduziram as viagens. Aumentaram as reuniões nas casas, como jantares agradáveis entre amigos regados a bons vinhos e saborosos pratos home made. Com isso, saem lucrando os supermercados, que não entram em crise. Ou melhor, lucram com ela, pois todo mundo precisa comer.

O importante é curtir a vida, continuar saindo e se divertindo. Afinal, enfrentar a crise trancado dentro de casa só faz com que ela fique ainda mais pesada. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Coluna publicada no Caderno EM Cultura, 22/1/16, na coluna da Anna Marina

Comentários